ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
Metaverso – até onde irá no varejo?

Metaverso – até onde irá no varejo?

22 ago 2022

Experimentar modelos de roupas usando um avatar em uma loja virtual ou comprar itens exclusivos, que só existem na unidade da marca no metaverso. Esse é o futuro do varejo? Esse ambiente virtual 3D, onde as pessoas poderão interagir em tempo real por meio de avatares, uma união entre realidade virtual, realidade aumentada e internet está bem próximo?

No varejo a ideia é de que o consumidor entre na loja virtual, selecione produtos, interaja com os vendedores e concretize a compra. E que essa plataforma seja capaz de proporcionar aos usuários uma experiência imersiva, semelhante à vivenciada no mundo real. Então, partindo desse princípio, o varejo pode trazer várias experiências interessantes, que contribuirão para a fidelização do consumidor. Mas até onde irá esse metaverso?

“Não me sinto muito confiante em afirmar que o consumidor passará a comprar um tênis Gucci com o seu avatar do metaverso. Mas, sem duvida alguma,  a presença digital das marcas migrará muito dos sites convencionais e e-commerces de hoje para plataformas mais imersivas, porque, cada vez mais, está crescente, a demanda por experiências reais digitais. O tempo de tela das crianças hoje é muito grande. O impulsionamento das vendas no digital é um caminho sem volta”, afirma Juliana Neves, vice-presidente da ABIESV, sócia da Kube Arquitetura, especializada em varejo com ênfase em projeto para todos os sentidos, e professora convidada do curso de Retail Design & Branding da PUC-RJ.

Diante do tema metaverso, Juliana faz o seguinte raciocinio: Se cada vez mais as gerações aumentam seu tempo e seus relacionamentos  no digital, é natural que as vendas também migrem cada vez mais para o digital. E se, cada vez mais, crianças e adolecentes estão se habituando a navegar em ambientes realistas digitais, também é natural que o grau de exigência deles  na hora de consumir, de forma online, seja maior. “Então, assim que tiverem poder de compra,  a experiência esperada será de um nivel muito mais realista do que  o que temos hoje”, explica.

Segundo a especialista, caminhamos para um mundo cada vez mais real digital e as marcas caminham para um consumo menos e-commerce e mais metaverso. “Agora, a loja física será responsável por prover o que o digital muito provavelmente jamais proverá como permitir ao consumidor tocar e sentir a textura do produto. Mas, conversar com vendedor,  negociar e se relacionar, isso sim talvez migre para o digital porque é mais conveniente”, completa.

Para entrar no metaverso são necessárias tecnologias como redes sociais, acessórios amplificadores, criptomoedas e NFTs. Uma pesquisa do Kantar Ibope Media, aponta que 6% dos brasileiros ou quase 5 milhões de pessoas, que usam internet já transitam por alguma versão do metaverso. E, conforme estimativa da consultoria Gartner, espera-se que, em 2026, um quarto das pessoas gaste pelo menos uma hora por dia no metaverso, mobilizando 30% das empresas a disponibilizar produtos e serviços produzidos unicamente para esta tecnologia.

O que é considerado Metaverso?

Vale uma observação bem-feita por Marcos Andrade, presidente da ABIESV, em um artigo que produziu, logo que voltou da NRF Retail’s Big Show, em Nova York, em janeiro desse ano, feira que propagou amplamente o metaverso no varejo: “Na verdade, nem está claro o que é considerado metaverso, vai desde o uso de realidade aumentada em ambiente real até universos paralelos completamente virtuais. O conceito ainda está bem aberto, mas uma coisa é certa: não existe UM metaverso, mas diversos e infinitos, por isso a plataforma será essencial! O investimento provavelmente será muito grande para os pequenos, que deverão aderir, como aderem hoje aos marketplaces”, diz um trecho do artigo, intitulado ‘Meta em Verso e Prosa’ e que recomenda aos varejistas que se aguarde o amadurecimento da tecnologia. Para os que ainda não leram, vale a pena: aqui.

Pouco antes da feira, no final de 2021, a Meta (empresa responsável por Instagram, WhatsApp e Facebook) anunciou a estratégia de construir um metaverso próprio nos próximos anos. Daí nasceu todo esse entusiasmo e as experiências tiveram início pelos grandes.

Entretanto, na verdade, como conta Eliane El Badouy Cecchettini, diretora de Media Intelligence & Consumer Insights da Target Media, o metaverso já existe há mais de três décadas, mas até recentemente ninguém conhecia. “A tecnologia até teve um hype inicial, mas perdeu a relevância porque a internet não ajudava, não tinha smartphone e as mídias sociais estavam começando. Com o passar do tempo, com melhorias gráficas, animações mais vivas, integração com mídias sociais, entre outras evoluções, o metaverso acabou ganhando mais espaço e, sobretudo, gerando maior identificação”.

Eliane foi palestrante no 34º Backstage do Varejo, promovido pela ABIESV, e no começo desse mês fez uma apresentação no 8º Encontro de Profissionais de Comunicação, cujo tema foi “Metaverso – Conceito, Aplicação e Tendências”, realizado pela Comissão Temática de Imagem e Comunicação da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química). Na apresentação, a especialista enfatiza que o metaverso pode realmente significar para os anos 2020, o que a internet representou nos anos 90, um ambiente totalmente novo, repleto de oportunidades, com a vantagem de que já existe um gigantesco grupo de clientes espalhados pelo mundo ávidos por experimentar novidades em um universo diferente.

“É a busca por experiências digitais, únicas, inéditas e não-reprodutíveis no mundo físico, que caracteriza o poder explosivo de consumo no metaverso. Por isso, tantas organizações estão tão interessadas em liderar o caminho nessa direção. E como resultado estamos vendo a rápida migração das marcas”. Eliane comentou o case da Aglet, fabricante holandesa considerada cool no segmento de tênis e que lançou um modelo no Metaverso. “O sucesso foi tão grande que estão lançando no mundo físico. A estratégia, agora, é usar o Metaverso para futuros lançamentos; os que tiverem aceitação são lançados no mundo físico. Ou seja, estão usando a realidade virtual como um imenso laboratório ao vivo e em tempo real.”

Como prova disso que Eliane disse, também, temos: a touca de inverno, na versão virtual, da Forever 21, que fez tanto sucesso na plataforma de jogos online Roblox (com produtos digitais exclusivos), que acabou sendo incorporada a coleções para lojas físicas.

Mais uma prova de que algumas empresas têm feito experiências virtuais para o lançamento de produtos é o caso da Brahma, que para estrear a bebida Brahma Duplo Malte Long Neck, criou um bar dentro do servidor Cidade Alta, do jogo GTA RP a América Latina, pertencente a empresa de assets games Outplay e que com audiência diária de mais de 6 milhões de views.

Outro exemplo foi há poucos meses quando aconteceu a primeira Metaverse Fashion Week, evento com desfiles de avatares e palestras no digital do game Decentraland.

Mais uma aventura virtual, é a da rede Hortifruti Natural da Terra, na qual o consumidor navega pelos produtos como se estivesse mesmo em uma loja e quando quer alguns deles, basta clicar. É uma nova experiência imersiva em realidade virtual e aumentada, desenvolvida em parceria com a startup Ava Creative, com o apoio da Fábrica de Startups. No Rio de Janeiro, na unidade do Leblon, o consumidor pode experimentar presencialmente, com o uso de óculos de realidade virtual. Aos demais, o acesso é pelo site mesmo.

Outra opção para os querem experimentar o Metaverso é entrar na plataforma da Nike e se cadastrar para praticar esportes, usar produtos da marca e criar seus minigames. Já a Zara criou o metaverso Zepedo para roupas virtuais exclusivas com avatares tridimensionais e mais de 2 milhões de usuários diários. A Ralph está no metaverso com uma coleção exclusiva de roupas digitais (na Roblox), e a Walmart, promete em breve lançar loja onde os avatares podem comprar virtualmente e receber em casa.

Foto abertura: Freepik