A Justa Medida no Design de Varejo
Por José A. Henrique, arquiteto titular do Studio Zeh
Muito se fala hoje sobre pandemia, pós Covid 19, inúmeras discussões estão sendo travadas em vários níveis, estudos científicos sobre comportamento, saúde, negócios e sobre design que é minha área de atuação. No nosso escritório, mesmo em home office, estamos atentos aos movimentos dos arquitetos em busca de soluções, desde urbanísticas, como aumento de ciclovias, prédios totalmente verdes, espaços generosos até o abandono das grandes cidades.
Os arquitetos designers de varejo que, na urgência do momento, fazem propostas por vezes esdruxulas, na busca de soluções como divisórias de plástico barato, passando pelo sino de acrílico de policarbonato, que mais parece o cone do silêncio do antigo Agente 86 ou aqueles secadores de cabelo dos anos 60, máscaras, bonitas, engraçadas, lúdicas e capacetes, que lembram astronautas e vestimentas como se a gente estivesse no programa do Simpsons, trabalhando com o Homer na usina atômica.
Acredito que devemos nos apropriar do conceito de “JUSTA MEDIDA” ao projetar. Não podemos transformar os espaços de varejo em hospitais de campanha. Precisamos salvaguardar vidas, claro que precisamos respeitar o próximo, mas também precisamos preservar o prazer de comprar, preservar o bem-estar, o conforto e o mínimo de sanidade possível.
Uma pessoa que sai para as compras ou para uma academia, um consultório médico, vai a um hotel ou a um restaurante, não quer ter a sensação de estar entrando em uma enfermaria, quer ter a sensação de estar entrando em um lugar onde irá se divertir, ser acolhida, valorizada e que tenha certa hospitalidade. Não acredito em desenhos standards, em soluções padrões, mas sim em soluções customizadas para cada espaço, cliente, situação e bolso. Se temos uma loja de sapatos de 200m e outra de 40m, certamente, faremos distanciamento social de maneiras diferentes. A estratégia de design aplicada em um espaço maior, pode permitir intervenções físicas com novos elementos, enquanto em 40m a intervenção se torna mais estratégica porque você não tem espaço de venda que possa ser interditado, necessariamente contamos com a tecnologia como ferramenta de venda.
Nas lojas de sneakers a variedade é uma das experiências importante para o cliente. Como é que vou criar a experiência se eu não posso manter o cliente na loja? Uma das maneiras simples é digitalizar o estoque por mobile, onde só o cliente terá acesso, se tornando seguro. Mas, não há tecnologia que substitua o toque de seda de um bom produto, sensação de uma textura interessante, maciez de um bom cashmere.
Então, na verdade a tecnologia é limitada, tecnologia é de grande valia, mas ela também tem que entrar no contexto da justa medida, porque não adianta eu encher uma loja de tela, tirar o produto e supor que isso se transformará em experiência para o cliente.
Estamos em um momento de abrir as lojas e restaurantes. As pessoas não vão querer ir a um restaurante que tenha cara de hospital, onde o garçom venha vestido igual a um robô, onde não se veja seu rosto, um local com mesas espaçadas, sem charme, sem atmosfera amigável.
Não sei em qual momento as pessoas vão perder o medo de entrar em um lugar e se contaminar, nós designers devemos pensar em barreiras inteligentes, barreiras que sejam lúdicas, barreiras que venham ao encontro do branding da marca. Barreiras que, na verdade, não sejam barreiras, sejam elementos que preencham o espaço de uma forma agradável de tal modo que eu queira estar, me sinta agradado, sinta o cheiro das coisas, veja quem está ao meu lado. Somos um povo carinhoso por natureza.
A justa medida é um conceito de Aristóteles que trata os iguais de forma proporcional a suas igualdades e trata os desiguais em forma proporcional a suas desigualdades. Esse conceito aristotélico se faz atual nos dias de hoje, onde temos que tomar atitudes, desenhar soluções pós pandemia, salvar vidas e negócios.
