ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
Varejistas acreditam que consumidores vão cobrar cada vez mais por sustentabilidade

Varejistas acreditam que consumidores vão cobrar cada vez mais por sustentabilidade

29 set 2021

É o que aponta pesquisa sobre o que os varejistas acham do futuro do varejo, apresentada no Latam Retail Show

‘O Futuro do Varejo na Visão de Quem Faz’, 2ª edição da pesquisa apresentada no Latam Retail Show (de 14 a 16/9), mostra que os varejistas acreditam que existe 73% de chances de os consumidores cobrarem cada vez mais sustentabilidade das empresas, além de responsabilidade social e respeito à diversidade. “No estudo levantamos a opinião dos varejistas sobre o futuro de seus negócios, em quais tendências apostam mais e qual a visão sobre a economia, sociedade e ambiente de negócios de maneira geral”, explica Maurício Morgado, da FGVcev – Centro de Excelência em Varejo da FGV-EAESP, que apresentou a pesquisa realizada por ele junto com a Gouvêa Ecosystem.

Ainda sobre o ambiente social, houve uma valorização do consumo de experiência (69,9%), preocupação com higiene (70%) e acreditam que o home office veio para ficar (63%).

A entrevista (online, na plataforma Qualtrics) foi realizada de 18/8 a 8/9, com 200 varejistas, 155 com respostas consideradas para análise; e 74% dos entrevistados têm cargos de diretoria e presidência ou são proprietários de negócios dos mais diversos segmentos, entre eles: supermercados, vestuário e moda, eletrodoméstico e material de escritório.

A começar pela eleição presidencial, a pesquisa mostra que 1/3 é da direita, 1/3 da esquerda e 1/3 do centro, há um descrédito nas mudanças que devem vir do governo, e uma preocupação com LGPD e Open Banking.

Já no ambiente econômico, existe um pessimismo com relação a inflação, “não acreditam que a inflação baixa veio pra ficar, e, também, no que se refere a taxa de juros, acham que não vai se manter próxima de zero”, conta Morgado.  Com relação a confiança do consumidor, os varejistas estão divididos: metade acha que ficará em alta e a outra metade que ficará em baixa. E 50% dizem que existe chance de o crédito ao consumidor ser facilitado. Já o medo dos efeitos da pandemia não é tão forte.

34% dos consumidores virão do e-commerce

Segundo a pesquisa, os varejistas também acreditam que o número de consumidores digitais tem 85% de chance de crescer muito e irá representar 1/3 das vendas. Acreditam que 34% dos consumidores de seu segmento passarão a vir do e-commerce. E, também, que existe 63% de chance de a banda larga atingir a maioria da população brasileira (na pesquisa do ano passado já se mostravam bem crentes nisso, com 57%).

Para os varejistas, a Inteligência Artificial tem quase 70% de chance de acontecer e a realidade virtual 57%. “Existe uma grande aposta nos pagamentos instantâneos como o PIX, com 76% de possibilidade desses pagamentos crescerem. Os varejistas também estão com muita confiança no crescimento do Super Apps e Big Data. E menor confiança na loja autônoma, voice commerce e educação e treinamento a distância”, conta Morgado.

Sobre os ambientes de negócios brasileiros, acreditam que ecossistemas de negócios, como Amazon, terão presença forte no País. Na 1ª edição do estudo, no ano passado, achavam que tinha 70% de chances e esse ano pulou para 75%. Já a marca própria perdeu um pouco da relevância que tinha ano passado, passando de 47% (em 2020) para esse ano 42%.

A competitividade vai aumentar

Ao perguntar se a competitividade no setor ia aumentar: 87% disseram que sim, contra 79% no ano passado. E 52% disseram que a rentabilidade vai diminuir, contra 45% em 2020.  “Uma preocupação que cresceu foi com relação a participação das 5 maiores empresas nas vendas.  No ano passado, 37% achavam que essa concentração das maiores aumentaria, e nesse ano saltou para 54% os que acreditam nisso.

“De forma geral, a pesquisa não teve muita alteração do ano passado para esse ano. Só piorou um pouco com relação a perspectiva econômica, e houve constância na preocupação com digitalização, com esse ambiente mais tecnológico”, finaliza Morgado.

Participante do mesmo painel do Latam, Leninha da Palma, presidente do Conselho do Caedu, rede de lojas de moda em São Paulo, disse que fizeram uma pesquisa com o seu público da classe C, boa parte donas de casa de 40 anos, e achou que o nível de empoderamento e de informação aumentou muito. “Sempre fazemos pesquisas, mas eu nunca tinha visto um resultado como esse. Exemplo do que percebemos: ‘se a loja não tiver preço nem vou visitar’. Estão com exigências altíssimas com relação a qualidade dos produtos e serviços e com o atendimento. Quer dizer, estão valorizando cada centavo que vão gastar. Isso significa que temos que melhorar ainda mais o ambiente de loja, investir cada vez mais no Visual Merchandising”, conta Leninha. “Hoje temos menos clientes e são mais exigentes e mais bem informados sobre moda. Então, há uma pressão grande para as coleções. Não dá mais para ficar com aquela mesma vitrine o mês inteiro. Tem que acelerar a velocidade de lançamentos e mudanças”, completa ela.

A Caedu teve muitas vendas positivas pelo WhatsApp durante a pandemia. “Foi bom poder usar os dados do cartão dos clientes. Mesmo porque eles estavam com necessidades de compras de roupas. Geramos um faturamento de loja média, em um período rápido de tempo”, conta Leninha.

Também no mesmo painel Enéas Pestana, presidente do Dia Brasil, que está em uma fase nova, com novo controlador. “A Companhia está sendo reestruturada de capital e, também, de gestão. São 750 lojas e vamos aumentar as franquias no futuro. Tem forte atuação no estado de São Paulo e em Minas Gerais”, conta o executivo.

Segundo Pestana, a equipe tira algumas horas por semana para discutir o comportamento do consumidor. “O nível de desemprego e queda de renda estão afetando totalmente o varejo alimentar. O Dia tem uma imagem excepcional de preço, é de fato muito competitivo. O consumidor hoje está comprando o que realmente precisa. Quer dizer se não tiver emprego nesse País e a renda não voltar, não retomará o consumo e as pessoas vão cada vez mais controlar o dinheiro”, avalia.

E com relação aos pedidos online na pandemia, Pestana conta que disparou nas lojas com iFood, chegando o e-commerce a representar 10% das vendas”.  E, segundo ele, o Dia tem 30% de share da marca própria no Brasil. “É um ativo muito relevante”.

Marcos Gouvea de Souza, Diretor Geral Gouvea Ecosystem, se surpreendeu com a porcentagem apresentada. “A média de marca própria no setor de alimentação no Brasil, atualmente, deve estar em torno de 6 a 7%, quase que um patamar histórico. Agora uma organização relativamente recente no mercado como o Dia estar na faixa de 30% é um grande mérito”.

Crédito da foto de abertura: Gerd Altmann, por Pixabay