ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
Presidente da ABIESV fala sobre o varejo em 2021 e as práticas fundamentais para se obter sucesso

Presidente da ABIESV fala sobre o varejo em 2021 e as práticas fundamentais para se obter sucesso

21 jan 2021

Marcos Andrade, que vai para seu terceiro ano à frente da ABIESV, fala sobre as tendências do varejo em 2021 e o papel importante desempenhado pela entidade. No ano passado, a ABIESV lançou projetos para ajudar os varejistas e seus associados (fornecedores do varejo) a enfrentarem a pandemia e o fechamento do comércio. O www.apoieopequeno.com.br, loja virtual, em que o pequeno empreendedor pode comercializar seus serviços e produtos sem custo, foi criado em parceria com a Confederação Nacional de Jovens Empresários – Conaje e Vtex (plataforma de e-commerce), e apoio do Sebrae e de outras entidades. A entidade também lançou a Loja+Segura (www.lojamaissegura.com.br), cartilha com todas as orientações de boas práticas ao varejista na reabertura da loja e um selo que atesta que o estabelecimento segue as medidas de segurança, projeto em parceria com InfoGo e Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas – CNDL. “Este ano vamos fortalecer estes projetos e lançar novos”, diz Andrade.

O executivo concede palestras nacionais e internacionais sobre temas que permeiam sua ampla vivência no varejo, como moda e empreendedorismo; e, também, é mentor para start ups e empresários no compartilhamento de suas experiências. Entre outras funções é diretor do Departamento de Economia, Competitividade e Tecnologia da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Em 2020, 1,3 milhão de empresas fecharam até a primeira quinzena de junho, 522,6 mil (40%) encerraram suas atividades por causa da pandemia, 99,2% de pequeno porte (dados do IBGE). Enquanto isso, algumas redes grandes crescem no digital, como a Soma, Magazine Luiza, além da Arezzo e Riachuelo que abriram lojas. É uma época de caos e transformação?

M.A. — Sem dúvida é uma época de transformação. Mesmo após a vacina, nada será igual a antes. Nós percebemos que essa situação foi um catalisador, que aumentou a velocidade das reações que já eram necessárias, como a digitalização. A pandemia acelerou os avanços digitais. Hoje não dá para falar em varejo sem a tecnologia. E a empresa de pequeno porte é a que mais tem dificuldade de gestão, de acesso ao crédito, a ferramentas de competitividade. Entretanto, mesmo o pequeno lojista tem condições de ter um pouco de tecnologia, um Whatsapp e Facebook, por exemplo, e manter o relacionamento com os seus clientes. Lembrando que hoje temos que trabalhar com a LGPD — Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, uma questão muito importante e um grande desafio para o varejista.

O e-commerce cresce, mas sabemos da importância das lojas físicas, porém como estão essas mudanças, muitas apostas nas experiências e investimentos em atrações na jornada do consumidor e no atendimento…. Isso se acentuou? Algo novo?

M.A. — Nesse momento é um pouco temerário falar. Não acho que tenha um modelo para ser seguido. A situação ainda não está bem definida, então, atualmente estamos repetindo o que já foi dito sobre experiências e ambientes de loja. Tivemos algumas experiências já na Europa e China, mas nada que possa dizer ser uma tendência geral. Porém, uma coisa será mais importante do que nunca: o varejista entender o seu cliente. E cada empresa tem um perfil de cliente com necessidades próprias. O Brasil tem um mercado grande e são várias tribos, então, teremos vários perfis de clientes e tendências, desde aquele perfil de ‘gasto por vingança’ (expressão que significa após muito tempo em isolamento social, pessoas podem comprar de forma compulsiva) até os que vão economizar muito. Temos desde aqueles clientes amedrontados, que vão na loja por necessidade e se puderem não falam com ninguém até aqueles que vão querer dar um beijo no caixa de tão carente que estão por só ficar em casa. Também na China, que temos em torno de 1,5 bilhão de habitantes, será a mesma coisa, muitos perfis. É preciso ter uma flexibilidade na estrutura, que permita atender esses públicos dos extremos. Quem tem essa percepção pode lidar melhor com isso, fazer um investimento. O pequeno necessita de tecnologia para saber qual ferramenta tecnológica usar e o custo para ele é muito grande, por isso esse empreendedor demora para tomar uma decisão, sabe que errar pode lhe custar até o negócio.

No ano passado, a ABIESV para ajudar o pequeno empresário criou o www.apoieopequeno.com.br, loja virtual gratuita. E depois criou a cartilha/selo Loja+Segura (www.lojamaissegura.com.br). Associações de varejo têm um papel importantíssimo sobretudo neste momento, certo?

M.A. – Associações como a ABIESV, que se dedicam ao varejo são muito importantes para dar informações de qualidade, uma curadoria para ajudar esse varejista a ser mais competitivo e atuante. Lançamos o Movimento Apoie o Pequeno para o pequeno varejista que não estava preparado para este momento digital. E, também, a cartilha/selo Loja+Segura com uma série de informações e providencias necessárias para o varejista tomar com relação a sua loja. A Loja+Segura foi implantada oficialmente, por exemplo, em junho, pela Prefeitura de Juazeiro do Norte/CE, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação (Sedeci), e hoje são 600 lojas na cidade que já possuem o selo.

Ainda, promovemos em 2020 uma série de Talks com assuntos da atualidade, onde os melhores especialistas deram orientações e dicas. Esse ano vamos buscar novas ações de apoio ao pequeno para evoluir, porque o comércio digital tem outras características. Provavelmente usaremos muito nosso tradicional evento Backstage do Varejo para dar todas as informações necessárias e suporte a este empresário. Vamos fortalecer os projetos já existentes e criar novos. Também devemos lançar o programa Consultório de Visual Merchandising, que trará novas oportunidades ao segmento. Esse é o compromisso que temos com o pequeno negócio.

No final do ano passado, a ABIESV distribuiu a seus associados o report de tendências de 2021, do Exame Academy e ACE. São assertivas na sua opinião?

M.A. – Acredito sim em algumas delas, sobretudo na ESG Environmental, Social And Corporate, traduzindo Governança Ambiental, Social e Corporativa, que também foi muito mencionada nas palestras da NRF 2021 (maior evento de varejo do mundo, realizada em janeiro), que se refere aos três fatores centrais na medição da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em uma empresa ou negócio. Esses critérios ajudam a determinar melhor o desempenho financeiro futuro das empresas. A ESG veio para ficar de forma definitiva.

Outra tendência que continuará e, aliás, já vem acontecendo há um tempo é de as empresas ambidestras, que estão divididas em dois mundos de negócios, com equipes cuidando do hoje e outras criando projetos futuros. Com certeza também é bem verdadeira a tendência apresentada referente a equipes com membros que fazem parte de alguma minoria e investimentos de empresas em projetos de diversidade.

Com relação as reuniões e eventos online acho que mesmo tendo os presenciais, a probabilidade é que os virtuais continuem sendo uma opção.

E o conceito de Lifelong Learning (formação contínua), a busca constante por aprendizado, sobretudo intensificada na pandemia, deve prosseguir sim, com os profissionais participando intensamente de cursos.

E, ainda, para falar em tendências devemos citar mais algumas do varejo, muito divulgadas na NRF 2021 como o ser humano como centro do negócio, o uso da tecnologia como ferramenta de apoio para a gestão e o relacionamento das pessoas, e a importância cada vez maior da loja física.

Enquanto empresário, dono da Expor Manequins, quais foram as ações diante da pandemia?

M.A. Temos um negócio de manequins e as lojas fecharam por um bom período e não só no Brasil. Por sermos pequenos é que sempre nos esforçamos para estar em outros mercados, porque as vezes o Brasil pode não estar bem, mas o México ou Peru está. Assim a empresa aumenta a sua competitividade, e ajuda a analisar tendências diferentes, que podem estar em outro país e chegar no Brasil e, também, nos dar escala. Tudo em busca da perenidade do negócio. Neste sentido, também participar de cursos é fundamental. Não se pode competir no presente com as ferramentas do passado. E para o pequeno essa atualização é muito complicada, porque ele está envolto a mil coisas ao mesmo tempo.

Este ano, com tudo o que aconteceu, em função da pandemia, tivemos que adequar a Expor Manequins. Por exemplo dar mais acesso ao nosso cliente ao nosso produto, facilitando o pagamento e os parcelamentos e criando novas parcerias nesse sentido. Também lançamos ações para incentivo das equipes de vendas, e um plano de serviço de aluguel de manequins, que inclusive vem ao encontro daquela tendência de alugar alguns bens e não comprar. No fim, o que se precisa é usufruir do benefício do manequim, que é o segundo fator mais influente na decisão de compra.  As lojas de departamento, por exemplo, hoje têm manequins não só na vitrine, mas sim espalhados pela loja, criam mini vitrines, porque vende mais. E sabe-se que entrou no provador, 70% de chances de o cliente comprar a roupa.