ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
O que existe de mais atual no varejo no mundo, pós-pandemia

O que existe de mais atual no varejo no mundo, pós-pandemia

04 fev 2021

Os três pilares principais da loja física evidenciados no ano de 2020 — conveniência, transparência e experiência — permanecem os mesmos esse ano, e são percebidos nas principais lojas inauguradas recentemente no mundo. Entretanto, as prioridades foram um pouco modificadas, revistas e repensadas. Essa foi uma das principais observações iniciais de Juliana Neves, sócia da Kube Arquitetura, em sua apresentação no recente seminário da Azov Consultoria e Educação (RJ), pós-NRF 2021.

“Nesse pós-pandemia, dos três pilares, conveniência está com peso maior, talvez depois se reequilibre. E continuamos falando de transparência nas relações, no processo produtivo, no preço, no valor e no produto. Transparência é um caminho sem volta. E com relação a experiência está fixado o termo PDE, que engloba: Point of Experience e Point of Encounter”, explica Juliana, que também é diretora da ABIESV Regional Rio de Janeiro.

Segundo a especialista, o PDE – Ponto de Encontro vem sendo identificado desde 2018, que é a loja como um hub de comunidade, onde o branding, o marketing e a arquitetura têm um importante papel. Ela dá como exemplo uma loja criada para os amantes de bicicletas. Uma loja que vá além de vender bikes, acessórios e equipamentos, que ofereça benefícios como um chuveiro para o cliente trocar de roupa após a pedalada; um café da manhã mais reforçado, com nutrientes necessários para suprir as energias após a pedalada das 5h da manhã, além de serviços de manutenção de bikes, treinamento, workshops etc. “É uma loja que serve de ponto de encontro e oferece experiência concisa de marca, acompanhada de propósito de marca. Uma integração de venda de produtos, serviços e experiências”, conta Juliana, que teve entre seus trabalhos à frente da Kube Arquitetura a Loja Special Adventure Bike Shop (Botafogo/RJ), que oferece esses serviços.

A especialista também ressalta o importante papel da arquitetura e do Visual Merchandising em tudo isso, “que é o de tangibilizar esses valores no PDV. É importante entendermos as estratégias das redes de lojas para saber entregar a arquitetura. E o VM chega mostrando do que o produto é feito, quem fez, como é feito para gerar valor e ‘justificar um preço’”.

Muitos formatos

Na apresentação, Juliana ressalta que também há ‘Muitos (muitos!) novos formatos’ e as vezes de uma mesma marca. A Sephora, rede mundial de lojas de cosméticos (fundada em Paris, com mais de 1.750 lojas em 30 países), “está investindo em um espaço menor, reduzindo o número de produtos, porém mantém a oferta de workshops e serviços”. Já a Lululemon, varejista de roupas esportivas, domiciliada em Delaware/EUA e com sede em Vancouver/Canadá, “inaugurou em Chicago uma loja gigantesca, o 1º andar com produtos e restaurante, e o 2º andar transformado em um centro de bem estar, na qual os clientes fazem aulas de yoga, de meditação, experimentando os produtos da Lululemon”.

E no pilar de conveniência, Juliana cita muitos novos formatos de grandes marcas, como a Nike e Starbucks, “apostando em modelos de negócios diferentes, tudo com muita integração de serviço com produto, e físico com digital”. Na Starbucks, a arquiteta conta que podemos ver formatos bem diferentes de lojas. “Em Bali/Indonésia, entramos na loja por uma plantação de café, de 100 m2 e é possível visitar a loja em épocas diferentes do ano e participar desde o plantio da muda do café, até a colheita, torra e moagem. Bem educativa sobre a cultura cafeeira”, diz Juliana. Já na loja em Tóquio, a Starbucks, que sempre teve grande potencial de criar ambientes de trabalho, firmou parceria com uma empresa de coworking e formalizou isso no 2ª andar, onde instalou grandes mesas de reunião e também pequenos boxes para os que querem trabalhar sozinhos, com menu digital para o cliente pedir o que quiser.

Outra surpresa da marca gigante é a “Signing Store”, loja inclusiva, planejada para a interação dos clientes com funcionários surdos ou com deficiência auditiva. “Nela, os clientes apontam para itens em um menu ou usam reconhecimento de voz para texto para fazer seus pedidos. Os monitores digitais ajudam os clientes a rastrear seus pedidos e ensinam frases, incentivando a comunicação em linguagem de sinais”, diz Juliana. Recentemente foi inaugurada a quinta unidade deste formato, em Tóquio. A experiência também já está nas comunidades surdas de Kuala Lumpur, Washington D.C., Guangzhou e Penang. E em outro formato totalmente diferente também está uma loja Starbucks em Nova York, uma pickup que não tem venda no local é só ponto de coleta, “porém há um balcão caixa escondido dentro de uma gaveta. Não dá para perder venda, nê?”, brinca a especialista.

Outro case interessante apresentado pela arquiteta é o da Nikelab Chicago “é o centro de recriação e recreação e do ponto de vista de arquitetura é genial, porque usa todos os restos da Nike para construir a loja, desde revestimentos, pisos, enchimentos de mesas e outros”, conta Juliana. “A loja tem um espaço onde é possível triturar o tênis na hora e receber um vídeo para postar nas redes sociais; tem também espaço para workshop. E o mais interessante é que a Nike vem investindo no sistema de trilhos no teto e no piso para que toda loja seja o mais flexível possível, aquele pilar do flexível, modular e autoportante, destacável, podendo por exemplo tirar o equipamento, uma arara pendurada no teto e levar para um outro PDV”. E, segundo a especialista, a Nike House Of Innovation 002, em Paris, é a mesma coisa. “De novo milhares de trilhos no teto e materiais sustentáveis, mesas e balcões tudo em cima de rodízio”, conclui.

Ainda este mês, o portal trará mais informações sobre tendências da especialista  Juliana Neves.

Juliana Neves
Arquiteta Titular Kube Arquitetura | Professora IED Rio/PUC-Rio

Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ e mestre em Design pela PUC-RJ, com pesquisas em Design e Emoção, com ênfase em Design para todos os sentidos, Juliana Neves foi pesquisadora na Brown University e possui especialização em Branding e Design e Trends Forecast. Hoje, ela é professora convidada do curso de Retail Design & Branding da PUC-RJ, do curso líbero de Retail Design e de Projetos Comerciais no curso Saperfare de Interiores, ambos no IED Rio; além de estar à frente da Kube Arquitetura, escritório que há 15 anos é especializado em arquitetura comercial, com ênfase em projetos para todos os sentidos. Com experiência internacional, a Kube tem lojas, além do Brasil, no México, Chile, Alemanha e Panamá.

No portfolio da Kube há marcas como Hugo Boss, YSL, Natura, AquaRio, Alphabeto, Outer. Shoes, Paineiras-Corcovado, Casa do Médico, UVLine, FOM, Sapatella, e Telecine. Atualmente trabalha em projetos de lojas em Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, Salvador e Belém, além da loja do Bikini Art Museum, na Alemanha. Em 2017, conquistou três prêmios no A’ Design Award (Itália), uma das maiores premiações internacionais da categoria, com a Loja do AquaRio (ouro), Restaurante Mirante Paineiras (prata) e Outer.Shoes Nova América. Nesse mesmo ano, o projeto da loja do AquaRio recebeu o prêmio Prix Versailles (Paris), promovido pela Unesco e pela União Internacional de Arquitetos.

Em sua pesquisa para o mestrado em Design pela PUC-RJ, ela estudou o modo como os sentidos podem influenciar a conexão emocional das pessoas e espaços projetados. Como consequência deste estudo publicou, em 2017, o livro Arquitetura Sensorial: A Arte de Projetar para Todos os Sentidos.

 

Foto de abertura: Pixabay