ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
Novo Olhar sobre o VM

Novo Olhar sobre o VM

25 jun 2020

Por PhD. Sylvia Demetresco *

Já que a pandemia está dando origem a novas estratégias no merchandising vamos pensar quais seriam as estratégias promocionais que tranquilizam, que não invadem, que inovam, que inspiram e que entretêm.

Por exemplo, a coleção de poster que a Saguez&Partners criou, em Paris, simplesmente para tornar o hábito de lavar as mãos realmente importante, pois nos faz olhar para a vida e pensar, nada vale a vida!

E é tão simples! A perspectiva é a de que chegamos ao limite:

Não há padrão de moda que sobreviva sem que haja valorização dos processos de produção;

Valorize o ser humano antes de tudo (e a natureza);

Não há mais nenhum padrão que se possa chamar de dominante.

O consumidor pós-pandemia ficou mais consciente: a sociedade, os setores e as empresas se organizam de forma cada vez mais sustentável, e devem ser transparentes… estas serão as que terão mais chances.

A economia circular, um sistema de produção e consumo em circuitos fechados, fundamentada no conceito dos Rs: redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia…eis o futuro.

Se pudermos cuidar de nós mesmos, vamos ter condições de cuidar daqueles que nos cercam. A beleza é uma benção na vida das pessoas e ela vem de dentro. Quem se sente belo, se sente forte, confiante, capaz. E quando as portas voltarem a se abrir, o mundo vai voltar a girar e seremos luzes para iluminar as pessoas de todas as maneiras.

Abre-se espaço para todas as expressões. Meu conselho: agora é hora de apreciar as misturas, o diferente, a beleza de sermos tão diversos, tão próximos e belos ao mesmo tempo. Viva a diversidade e o respeito pela natureza, pela conservação da vida e da natureza simultaneamente.

Pense de modo intercultural e sustentável!

Agora é momento de repensar todo hábito de consumo, do design, à beleza, da casa à moda, do vestir à comida. Casas mais enxutas, móveis com apelo mais funcional e construídos com materiais ecológicos, além de um resgate dos tempos da TRADIÇÃO … em que os bens eram mais duráveis. A casa terá poucas peças e de qualidade, mais leve, limpa, minimalista e funcional.

Alguns itens já apontam. Na área da beleza, a indústria dos cosméticos naturais, orgânicos e sem ingredientes de origem animal deverá seguir forte. A redução das embalagens será outro ponto a se pensar. Aulas online de maquiagem, ginástica, bricolagem, o “faça você mesmo”.

Repensar sobre hábitos seus e do consumidor, que quer ser mimado e quer ver transparência e identidade. Não é mais life style, mas time style!

Com o home office e o teletrabalho, implantados mundialmente durante o isolamento, a mobilidade urbana seguirá mais fluida e prazerosa.

“MOTTANAI”: expressão japonesa que significa “que desperdício!”

Pode ser considerada o novo mantra desses tempos. Repensar o que jogamos no lixo cotidianamente – seja alimento, roupa ou mesmo o nosso precioso TEMPO. Valorizar o produto nacional, enaltecer o artesanato e qualificar a mão de obra. Repensar os processos da cadeia como um todo!

Digitalizados na marra e… humanizados por necessidade… uma das maiores lições que a pandemia trouxe neste momento disruptivo foi a capacidade de nos adaptarmos às mudanças. Resiliência é a palavra!

É preciso olhar as marcas ao nosso redor, pensar e analisar como elas estão conseguindo driblar o atual momento.

Starbucks, entregando alguns dos seus espaços para costurar máscaras ou criando kits café para o pessoal dos hospitais; Ford reformando os respiradores dos hospitais da Bahia, dando uma frota de carros para a Cruz Vermelha ou ainda fazendo máscaras dentro da fábrica de carros para doar em Salvador e arredores; Reserva com a venda de  suas camisetas Pima, que se tornam 5 pratos de comida 1P=5P, no Rio de Janeiro e também ao criar a plataforma reserva.ink, que em cinco passos ajuda qualquer pessoa, a montar sua marca de camisetas na internet; Natura doando mais de 3 milhões de sabonetes e gel para a sociedade carente; Ambev que além de fabricar gel em sua indústria fez uma parceria com o Biscoito Globo, que os ambulantes vendem na praia para ajudá-los; e, último exemplo, a Patagonia, cujo lema é o anticonsumo um paradoxo apesar de ser um sucesso em vendas por meio de esforços de marketing anticonsumo. A fábrica recebe de volta e recicla os produtos de seus clientes sendo assim sustentável e consciente. Esta marca ao mesmo tempo que cresce de forma sustentável, é rentável, e é adorada por executivos, empreendedores, atletas e ambientalistas!

Num futuro mais sustentável, as pessoas comprarão menos coisas a preços mais altos.

Finalizando:

O VM vai migrar para consultoria de compra e de ambientação, ficará 100% do lado do lojista/empresário.

A arquitetura da comunicação será mais importante do que a construção da comunicação. A marca tem que existir e ser real, ter história, ter respeito, ser empática!

Não desperdice a quarentena: como tudo vai mudar, vamos perder com certeza, vamos reagir e achar outros meios de pensar.

Como a criança que tem que pintar por dentro da linha e não sair do espaço a colorir…. ao contrário, vamos sair do espaço demarcado.

Criar e pensar!

 *Sylvia Demetrescu é Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. VM na empresa Relógios Rolex. VM da Loja Natura Paris. Professora de VM na FAAP. Livros: Vitrina Construção de Encenações, ed. Senac; Vitrinas e Exposições: Arte e Técnica do Visual Merchandising, ed. Érica/Saraiva.