ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
As vantagens de usar os elementos de produtos da marca no projeto de arquitetura da loja

As vantagens de usar os elementos de produtos da marca no projeto de arquitetura da loja

07 Maio 2021

Imagina uma marca tendo o tecido de produtos que fabrica sendo aplicado no revestimento de uma parede de sua loja. Ou uma fita que há anos estampa seus modelos, também, servir para segurar (e decorar) as araras da loja. A utilização de elementos dos produtos da marca na concepção da loja é uma ideia que, segundo Juliana Neves, sócia-diretora da Kube Arquitetura, tem muitas vantagens. “Com isso se cria uma conexão muito forte do cliente com a marca e com os produtos; é como se a loja fosse uma simbiose, uma mistura de produto com expositor. Trazer para a loja pequenos elementos já usados em seus produtos há tanto tempo ajuda a contar a história da marca”, explica a especialista, que também é vice-presidente da ABIESV.

Segundo Juliana, professora da IED Rio/PUC-Rio e palestrante do Sebrae, dar visibilidade a esses itens no ponto de venda, tangibilizar isso, deixando o projeto de arquitetura com a cara da marca tem ainda as vantagens do custo, em ter esses elementos em abundância e de facilitar prazos, uma vez que os itens já estão nas mãos do próprio cliente.

Mas todo esse trabalho tem um processo, não é feito ao acaso. Quando a Kube tem um cliente novo, a partir da interpretação de seu projeto de branding (se houver), é feito o projeto de arquitetura. Tudo começa pela etapa chamada de Zero, que é a de imersão no mundo da marca, que envolve conceito, estratégia e técnica. “A imersão conceitual trata muito do branding, quando o cliente o tem já traçado ótimo, quando não nós traçamos seus principais diferenciais em relação a seus concorrentes. Na imersão estratégica, levantamos as premissas de projeto e o briefing para a expansão da marca – que envolve os itens obrigatórios, que mesmo na lojinha pequena da esquina, tem que ter”, explica a arquiteta o passo a passo do trabalho.

Já quando se chega na imersão técnica, Juliana e sua equipe visitam a fábrica do cliente (quando existe). “Nessas visitas entendemos qual é o DNA, frequentemente conhecemos alguns detalhes do processo de fabricação de cada produto e descobrimos tecidos, no geral itens e peças que estão constantemente e há anos na produção do cliente e que são apaixonantes. Nós, então, os utilizamos na concepção da loja, dando um ar mais autoral ao projeto”.

A arquiteta dá exemplos de clientes, como a CCM, de moda fitness, cujo tecido dos produtos da marca (desde calças até bolsas), foi usado nas cortinas dos provadores; e a Wöllner, de roupas e mochilas, também com seu tecido em tela sendo aplicado como revestimento na área externa dos provadores; e a fita laranja que está nas alças das mochilas da marca sendo usada para prender no letreiro e nas araras da loja. “Nós usamos na verdade restos de produção, o que resulta em menos descarte. É mais sustentável. Além disso, caso o cliente mude uma coleção de cor, basta os detalhes colocados na loja acompanharem essa mudança. A ação só tem pontos positivos”.

Cortina da loja da CCM, cujo tecido amarelo perfurado é usado nas calças e nas costas das bolsas e mochilas da marca.

Fitas laranjas das alças das mochilas da Wöllner, usadas nas araras da loja da marca

Juliana Neves — Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ e mestre em Design pela PUC-RJ, com pesquisas em Design e Emoção, com ênfase em Design para todos os sentidos, foi pesquisadora na Brown University e possui especialização em Branding e Design e Trends Forecast. Hoje, é professora convidada do curso de Retail Design & Branding da PUC-RJ, do curso líbero de Retail Design e de Projetos Comerciais no curso Saperfare de Interiores, ambos no IED Rio; além de estar à frente da Kube Arquitetura, escritório que há 15 anos é especializado em arquitetura comercial, com ênfase em projetos para todos os sentidos. Além do Brasil, tem lojas no México, no Chile, Alemanha e Panamá. No portfólio da Kube há marcas como Hugo Boss, YSL, Natura, AquaRio, Alphabeto, Outer. Shoes, Paineiras-Corcovado, Casa do Médico, UVLine, FOM, Sapatella, e Telecine. Atualmente trabalha em projetos de lojas em Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, Salvador e Belém, além da loja do Bikini Art Museum, na Alemanha. Em 2017, conquistou três prêmios no A’ Design Award (Itália), uma das maiores premiações internacionais da categoria, com a Loja do AquaRio (ouro), Restaurante Mirante Paineiras (prata) e Outer.Shoes Nova América. Nesse mesmo ano, o projeto da loja do AquaRio recebeu o prêmio Prix Versailles (Paris), promovido pela Unesco e pela União Internacional de Arquitetos.  Em sua pesquisa para o mestrado em Design pela PUC-RJ, ela estudou o modo como os sentidos podem influenciar a conexão emocional das pessoas e espaços projetados. Como consequência deste estudo publicou, em 2017, o livro Arquitetura Sensorial: A Arte de Projetar para Todos os Sentidos.

 

Foto de abertura: Victoria Jordani (@victoriajordani)