ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
A loja se torna um ponto de encontro, de educação e de experiência

A loja se torna um ponto de encontro, de educação e de experiência

12 fev 2022

As tendências do varejo 2022, com análises de especialista no setor, a arquiteta Juliana Neves (reportagem parte 2. Leia também a parte 1: http://portaldovarejo.com.br/varejo-2022-o-que-vem-por-ai/)

“Percebemos como hoje a loja física se torna um ponto de encontro, de educação, de experiencia e de troca. Se torna um pilar de uma comunidade a cerca de um propósito. É muito importante estarmos atentos a isso, a mudança do papel da loja física”, afirma Juliana Neves, vice-presidente da ABIESV, e sócia-diretora da Kube Arquitetura.

Segundo Juliana, as lojas, também, estão cada vez menores e mais espalhadas. “Atualmente, temos um número maior de lojas e mais pulverizado, com um menor investimento por metro quadrado. Na Kube Arquitetura estamos desenvolvendo muitos projetos lights para conseguir capilarizar mais a marca e com uma curadoria muito maior de produtos, quer dizer, menos produtos na loja e cada vez mais aplicáveis ao que aquele consumidor local de fato quer. E se for o caso, compra no e-commerce e entrega depois na loja”, completa.

Além das palavras que já vem sendo ouvidas há anos — exclusividade, experiência, transparência, conveniência, propósito, sustentabilidade, a loja como ponto de encontro da comunidade e a tecnologia como forma de redução de atritos –, Juliana pede para acrescentar na lista: omnicanalidade – a jornada começando no físico e terminando no online e vice-versa, experiências físicas para impulsionar vendas online, tangibilizar o propósito da marca.

Ideias semelhantes

Neste contexto, entre os exemplos que Juliana apresenta de cases está a Daily Paper Flagship Store,  marca de moda que nasceu em Amsterdã, de famílias africanas (da Somália, Marrocos e Gana), e criada a partir de um blog. “No Brasil, há um tempo, também estamos vendo blogueiras, fazendo parcerias e indo para a varejo físico, com produtos exclusivos”, conta a arquiteta.

Conforme a especialista, a loja está dando o que falar em Nova York. Sua fachada é decorada com latas recicladas de Arizona Iced Tea, fazendo alusão ao trabalho tradicional de miçangas africanas. E no interior tem um mapa dos EUA feito de jornal reciclável, o teto é de bambu, estão expostos trabalhos de vários artistas africanos e tem um espaço de café. “Sempre vemos espaços de café no varejo norte-americano. A inserção de alimentação com produto de moda para gerar tráfego”, afirma a arquiteta.

Hussein Suleiman, co-fundador da Daily Paper, deixa suas palavras: “As lojas não podem ser apenas espaços de varejo. Temos que realmente tentar criar o maior número de conversas possível. Às vezes, chamo isso de nossa embaixada porque é literalmente um lugar que temos fora de nosso país de origem, que representa nossos valores e o que defendemos. Queremos criar um espaço acolhedor para pessoas com ideias semelhantes falarem sobre questões semelhantes”.

Loja Daily Paper (Nova York)

 

Marca: compromisso ambiental

Outro exemplo incrível, trazido de NY por Juliana, é a Arc’teryx, marca de produtos de alta performance para trilhas, escaladas etc. “São fabricantes e inauguraram a primeira ReBird, serviço de manutenção das peças usadas deles, tênis rasgado, casaco com zíper quebrado, entre outros. Mostram a preocupação para dar uma vida mais longa aos produtos. Uma iniciativa que conecta os clientes ao compromisso contínuo da marca com a circularidade, incluindo upcycling, revenda e cuidado e reparo”.

Itens exclusivos da Arc’teryx ReBird estão disponíveis para compra, incluindo produtos reciclados e/ou criados a partir de materiais economizados do lixo, bem como uma seleção de equipamentos usados Arc’teryx de várias categorias. “Construir equipamentos que durem é o primeiro passo para reduzir nosso impacto ambiental”, afirma Katie Wilson, gerente sênior de sustentabilidade social e ambiental da Arc’teryx.

Serviço de manutenção das peças usadas Arc’teryx ReBird

 

Comunidade ajuda a marca

Mais um case de impacto no varejo é a The Drama Bookshop, livraria fundada em 1917, que foi celeiro de vários movimentos de teatro americano, formou dramaturgos, atores e cineastas. “A loja ia fechar suas portas na pandemia devido ao alto valor do aluguel, mas a comunidade se uniu em prol de uma mudança. Em junho de 2020 abriram uma nova loja, a duas quadras da histórica, e trouxe todo esse ar meio vintage, onde se vê os moveis mais antigos sendo aproveitados. Toda cenografia muito interessante”, conta Juliana.

A livraria The Drama Bookshop

 

A especialista sempre tem seu olhar para o que acontece em Nova York e no mundo, apesar da diferença de valores de investimento e da realidade completamente diferente do mercado brasileiro. “Porém, o meu exercício é sempre tentar ver o que esse varejista, que colocou milhões de dólares em sua loja, pode me ensinar para eu tentar fazer com o meu budget. Como podemos aplicar essa experiência da loja de NY no Brasil”.

Juliana Neves fez apresentação dessas no recente seminário da Azov Consultoria e Educação (RJ), pós-NRF 2022.

 

A reportagem terá parte 3. Aguardem.

Foto da abertura: Freepik