ABIESV - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS PARA O VAREJO
A liquidez e o consumo pós-pandemia

A liquidez e o consumo pós-pandemia

20 jan 2021

Por Marcelo Villin

Depois do choque econômico causado pela pandemia no segundo trimestre de 2020, nos encontramos ansiosos (ou esperançosos) por superar as incertezas em relação à retomada do consumo, e tentarmos “surfar a onda de liquidez”, criada pelo governo federal no ano passado, visando gerar as condições para uma retomada em “V” da demanda e da produção.

Para alguns segmentos do mercado de bens de consumo essa recuperação foi quase plena em 2020, como materiais de construção, móveis e colchões, utilidades domésticas e alimentos, etc; para outros, como o setor de moda (roupas, calçados e acessórios) a recuperação só se dará mesmo nesse ano (2021), tendo amargado em 2020 perdas estimadas entre 10% e 20% nas vendas acumuladas (sem descontar a inflação), sobre o ano anterior (2019).

Por isso mesmo, o desempenho das vendas na Black Friday e em especial no Natal, eram tão importantes para construir as condições necessárias a um início de ano mais promissor e para a consolidação da retomada plena da produção, este ano.

Os resultados divulgados até o momento mostram, no geral, uma queda no varejo, no final do ano, maior do que o esperado (entre 2% e 6%, frente ao Natal 2019), em especial para os segmentos de moda e bens de consumo pessoal, muito dependentes do varejo convencional (lojas físicas), dado o medo com a segunda onda da pandemia.

As diferentes medidas econômicas de aumento de liquidez e proteção do emprego, implementadas durante a pandemia, visando amenizar seus impactos sobre as empresas e as famílias, alcançaram êxito além do esperado, com a expansão de nada menos que 50% da base monetária, no país.

Numa ordem cronológica, seus efeitos foram o fomento do consumo e das vendas no varejo, observados no final do segundo trimestre, seguido pela reativação das cadeias produtivas, alcançada já no final do terceiro trimestre e a retomada da demanda por serviços, vivenciada no quarto trimestre de 2020.

O que se espera é que tais ações tenham o poder de criar as condições ideais para a recuperação dos empregos, em boa parte já alcançado, como  demonstram os números do CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, que apontam um contingente de empregos formais maior do que o do período anterior à pandemia; e o destravamento dos investimentos, pilar central da sustentação econômica, ainda em fase inicial, uma vez que estão diretamente atrelados à confiança em um horizonte mais longo e consolidado de sustentação do equilíbrio fiscal,   ainda sob ameaças populistas de toda sorte (tanto de políticos da situação, quanto da oposição).

É sabido que esse cenário de alta liquidez terá vida curta, ou seja, será uma janela que perdurará por poucos meses, enquanto as cadeias produtivas e de distribuição se reorganizam, após os choques sofridos com a pandemia.

Populistas à parte, é preciso considerar que ainda em 2021, a redução da liquidez será necessária e inevitável, dado que seus efeitos não são permanentes, e tendem a serem anulados pelo aumento da inflação resultante. Ou seja, nos próximos meses, o excesso de liquidez tende a ser reduzido, com a relação dos juros base (Selic), dos depósitos compulsórios, o retorno da cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre os empréstimos etc. Em meio a esse cenário, além da vacinação em massa e da recuperação da confiança econômica, o principal fator que poderá sustentar o crescimento do consumo em 2021, será a recuperação dos níveis de emprego e a recomposição da renda média das famílias.

Por sua vez, para as empresas poderem alcançar crescimento, em 2021, será necessário empreender tempo e recursos na construção de novas estratégias voltadas ao aumento da relevância de suas marcas no mercado, considerando ações que garantam a construção de valor na exploração dos seus  canais de distribuição, com destaque para o e-commerce e as mídias digitais, na qualificação do mix ofertado, nas estratégias de precificação de seus produtos e na ativação de mercados regionais de maior potencial de crescimento para a marca.

Marcelo V. Prado é economista, consultor de empresas e sócio-diretor do IEMI – Inteligência de Mercado, diretor da ABIESV, diretor e membro dos Comitês Têxtil e Calçados da FIESP.

Foto da abertura: Freepik